sábado, 5 de fevereiro de 2011

Poesia-Terapia (parte 1)

III Festival Internacional de Poesias de Dois Córregos
27/06/09

                 “POESIA-TERAPIA”

Acreditando que a palavra possui alma e poder... escolhamos escrever com cuidado...
Particularmente, registro meus sonhos, meus pesadelos e muitas vezes brigo com a realidade; denuncio, entrego meus pontos fracos e também os fortes; filosofo, declaro meus modos de pensar e amar; historio, pesquiso meu interior, elaboro idéias, chego a melhor compreensão do cotidiano, viajo na imaginação... que é a maior liberdade humana particular...
Escrevo por inspiração, por treino, por estudos e pesquisas, por encomenda ou por compulsão... Há em mim um misto de idéias e descrições nas quais pinto a vida com as cores da emoção, da história, que às vezes é humana e se modifica até chegar a minha história particular.
Desde a antiguidade, em guerras, na solidão, no ódio ou na paixão... é muito fácil se expressar em versos...principalmente na instabilidade... É rápido, tem relato completo,  em  flashes de acontecimentos, é um objeto empírico, existe por si e em si mesmo, ao alcance de qualquer leitor por ser fácil de ser compreendido...
O modo como se dispõe na página, o ritmo específico de cada verso que ocupa uma linha, o conjunto de versos formando a estrofe... e muitas vezes a rima... são traços distintivos para diferenciar o poema da prosa... pois esta é escrita em linhas contínuas, ininterruptas...
Há de se registrar que a poesia nasceu com o intuito de sensibilizar...e na linha do tempo... desde os  Trovadores medievais( do século XII em diante), os homens, na maioria nobres, escreviam com o eu lírico masculino as cantigas de amor e com o eu lírico feminino as cantigas de amigo.

Cantiga da Ribeirinha( considerada a primeira cantiga de amor da Literatura Portuguesa)
No mundo non me sei parelha,
Mentre me for como me vai,
Cá já moiro por vós, e - ai!
Mia senhor branca e vermelha.
Queredes que vos retraia
Quando vos eu vi em saia!
Mau dia me levantei,
Que vos enton non vi fea!
E, mia senhor, desd'aquel'di, ai!
Me foi a mi mui mal,
E vós, filha de don Paai
Moniz, e bem vos semelha
D'haver eu por vós guarvaia,
Pois eu, mia senhor, d'alfaia
Nunca de vós houve nem hei
Valia d'ua correa.

( Cantiga de amigo)
Se sabedes novas do meu amado,
aquele que mentiu do que me há jurado
ai deus, e u é? Ai flores, ai flores do verde pinho
se sabedes novas do meu amigo,
ai deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado,
ai deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquele que mentiu do que pôs comigo,
ai deus, e u é?

(...)                                                           

D. Dinis



Na poesia de hoje não há idade, nem sexo, nem nacionalidade, nem classes sociais... e como diz Machado de Assis: “traz-se do berço”.
Exemplo do grande poeta Carlos Drummond de Andrade, maior poeta brasileiro do século XX que retrata a vida à sua volta:

Cidadezinha qualquer
Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.

Êta vida besta, meu Deus.

De Alguma poesia (1930)


Observemos que a poesia é um flash de memória:
BEM-AVENTURADOS
Bem-aventurados os pintores escorrendo luz
Que se expressam em verde
Azul
Ocre
Cinza
Zarcão!

Bem-aventurados os músicos...
E os bailarinos
E os mímicos
E os matemáticos...
Cada qual na sua expressão!

Só o poeta é que tem de lidar com a ingrata alheia...

A ingrata linguagem dos homens!

Mário Quintana


Uma forma que facilita o uso da estrutura e das palavras-chave, fluindo a escrita paralela é a paródia...
Paródia... de Mário Quintana

BEM AVENTURADOS
Bem aventurados os poetas
Que semeiam idéias,
Que enfeitam em palavras
O mundo que habitam.
Bem aventuradas as poesias
Que bailam com ou sem versos,
Que mudam a expressão
E que à língua dão emoção.


Todos nós podemos nos expressar... alguns com técnicas, outros sem, alguns com palavras, outros com certos aspectos da arte que emocione, toque a sensibilidade, sugira emoções por meio de uma linguagem... Afinal a poesia é imaterial... não tem existência concreta... só existe em outro ser: primeiro onde ela se manifeste , depois  no espírito do indivíduo que a capte e  terciariamente, no próprio poema resultante do trabalho objetivador do indivíduo-poeta. Afinal, todo belo que represente uma idéia é poesia... e pode falar sobre isto quem já se sentiu musa...
Há também a prosa poética...
Vejamos Salomão, na Bíblia:
Anseios de amor
Ela .
 Sua boca me cubra de beijos! São mais suaves que o vinho tuas carícias,
 e mais aromáticos que teus perfumes
é teu nome, mais que perfume derramado;
por isso as jovens de ti se enamoram.
Leva-me contigo! Corramos!
O rei introduziu-me em seus aposentos.
Coro.
Queremos contigo exultar de gozo e alegria,
celebrando tuas carícias, superiores ao vinho.
Com razão as jovens de ti se enamoram

Matheus-6:27 a 6:29
Ora, qual de vós, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado à sua estatura?
E pelo que haveis de vestir, por que andais ansiosos? Olhai para os lírios do campo, como crescem; não trabalham nem fiam;
contudo vos digo que nem mesmo Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles.
 “Há muito  que se registrar e que se descobrir da alma que transcende em cada manifestação representativa.” Diz Sérgio Milliet...?
E... Dois Córregos é Cidade Poesia porque as pessoas daqui não têm medo de transcender, de se expor, descobrir-se, e na arte mostrar o seu ser interno, seu “Eu” superior que se manifesta no canavial, na usina, no comércio, na casa de detenção, na rua, na escola, em casa... e, prova assim, que não há limite para a imaginação. Ela jamais será superada, pois  nela  mora a criatividade, que é pessoal e livre...

Temos que continuar a escrever!

Dois Córregos já nasceu poética...
Em par com nascentes
Sua água fluindo...
E da felicidade à poesia... um  passo.
Em seu leito sensibilidade, educação e esperança
Ideais alimentados  pela usina de sonhos
Que tem com versos aliança...

Digo sempre: Se não escrevermos na hora que pensamos, minutos depois vamos usar outras palavras para nos expressarmos, aí, fica só a idéia... e, se é desta forma, há um criador atuante em cada um de nós.
 Como nem nós pensamos duas vezes com as mesmas palavras...por que imaginarmos que o que pensamos não é interessante... ou que alguém possa pensar melhor que nós???? Somos ímpares em recriação...
O papel e o lápis ou a caneta ou o teclado...são nossos grandes aliados no registro de nossas histórias ou da contemporaneidade...


Desde  o simples relato,  por exemplo, em:

Prazeres - Bertold Brecht

O primeiro olhar da janela de manhã
O velho livro de novo encontrado
Rostos animados
Neve, o mudar das estações
o jornal
o cão
a dialética
Tomar ducha, nadar
Velha música
Sapatos cômodos
Compreender
Música nova
Escrever, plantar
Ser amável.

Coisas comuns do cotidiano... com as quais  podemos ser felizes:

Olhar a luz do dia ao amanhecer...
Andar, enxergar, ouvir, respirar, pensar...
Milagres  do presente...
Até o nosso trabalho,
Nosso alimento e compromissos...
As fases da lua,
A brisa que passa.

Neste caminho... de começo... para os que ainda não experimentaram, convido-os a PARODIAR!

Todos podemos enumerar atividades e desejos que nos façam mais felizes... e como felicidade é ter gratidão pela vida... Vamos demonstrar a nossa?!

PRAZERES

Após o trim do despertador...
Sentar na cama e agradecer...
Usar naturalmente o banheiro,
Comer o que gostar ou puder,
Ouvir ou dizer :bom dia!
Trocar olhar ou sorriso,
Sentir a brisa da manhã,
Ver aquele e-mail,
Ler aquele torpedo,
Assinar o “livro-pão” de novo, no trabalho...
E terminar o primeiro turno.
Render mais que na véspera,
Encerrar tarefas...
E além do cotidiano:
Dia de pagamento,
Ovos na Páscoa,
Panetone no Natal,
Bolo de aniversário,
Compra de Supermercado,
Tratar algum problema de saúde...
Encontrar a paz no íntimo sempre...
Rezar quando quiser,
Fazer planos a curto e a médio prazo,
Obter sucesso nos projetos,
Acreditar que a palavra é o princípio...`
Ver materializar o que nasceu na ideia: “prece-ação”...
E viver o presente que é presente...


Quer melhor terapia que esta forma de oração?
Encontrar-se consigo é poetar...
E... interno... há um altar!


Outra paródia do mesmo texto:

Coisas que me deixam feliz

Acordar
Amar
Ter família
Comer chocolate na TPM
Não ter cólicas
Baile orquestrado
Roupa nova
Ficar em silêncio quando preciso dele
Escrever sempre
Ter dinheiro para o necessário...
Perfume francês
Ler, em especial... os textos de meus alunos
Viajar e na estrada ver as nuances do verde
Encontrar meus filhos
Receber declarações positivas...
Ir à cabeleireira
Ganhar massagem
Fazer supermercado
Dançar, nadar, caminhar
Aprender e ensinar
Dormir e sonhar
Depois, de novo...
Acordar e tudo recomeçar...









 

Nenhum comentário:

Postar um comentário