quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

"Minha primeira terrra"


"Minha primeira terra"

Minha primeira terra tem verde mata
Muita gente pacata...sensata...
E aves, insetos, pureza...
Ímpar natureza.

Minha primeira terra tem morros e águas puras,
Nascentes...sementes...inscrições...
E amores da minha vida
Sobre si ou no seu pó
Com histórias que nunca me deixam só...


Amarelo, azul, vermelho...
Irisada...em espelho...
Em cada rosto familiar
Descendentes do fundo do mar.

Não permita Deus que o progresso
Desfaça os seus bens, eu te peço!
E que em suas tranqüilas ruas
Haja sempre bênçãos, paz e seja de maldades nuas...


Carmem Lúcia



Afinidades

Afinidades

O sonho de ser mãe se  concretizava:
Num setembro você chegava...
Bastante expectativa:
Uma criança ativa, altiva, irrequieta...

Algo semelhante ao fermento em pessoa,
Esgotava as teorias,
Mais buscas exigia...
Pisava em ovos sem me sentir boa...

As fases foram assentando as ansiedades,
As experiências e tomadas de decisões...
Absorviam e minavam as ambições...

Somamos nossas necessidades,
Hoje com afinidades nos complementamos
E nossas essências homogeneizamos...


Vindo do oceano

Vindo do oceano...de azul profundo...
Você saudou o mundo...
Eu, vulnerável e ansiosa...
Em minha vida luz desde que chegou...

Num galho de espinhos foi flor...
Percorreu e esfera do sentir
E pôs-se a ebulir...
Sua energia me alimentava

Todo dia em casa a paz reinava...
Criaturas em harmonia se encontravam
Era imensa a consciência e a confiança,
Mas a ponderação fez aliança...
O invisível nos testou

Sem espetáculo o palco da vida nos enquadrou...
Esforços sobre-humanos
Grandes obstáculos sem planos
As raízes eram profundas e isto se evidenciou...


“A Gazeta”: Arquivo-ouro do patrimônio.

“A Gazeta”: Arquivo-ouro do patrimônio.

            Sempre que leio “A Gazeta”, penso: - Amanhã não será antiga, pois é semelhante à luz. Incomum perfil informativo que permanece, por conter fatos do cotidiano com registros históricos. Suas notícias não são só atualidades, nela há outras antenas e conexões. Ler o que traz é como brindar com o melhor que Botucatu faz. Há nomes que pelos progressos particulares somam-se, instruindo e dando exemplos.  Louváveis textos refletem o adiantamento moral e intelectual no seu conteúdo.
            Gerações pretéritas deixaram-na como “verdadeira bandeira na defesa dos interesses de Botucatu”, segundo o livro “Botucatu - História de uma cidade”. Hasteada semanalmente até alcançar este Jubileu de Ouro, agrega tesouros de civilizações e na atualidade e futuro, ainda será flor para o fruto da formação de idéias alinhadas na produção de cultura, na época que for...
            Atualmente, o maior problema para se viver de forma lógica é o ritmo desenfreado de cada um, que na era da comunicação tenta se expressar, enquanto outros tentam entender. Tudo dependendo do foco e do enfoque, mas neste contexto, “A Gazeta” centra, veicula, traz análises, críticas, sínteses, relatos, retratos, com cuidado e controle da informação e seleção da mesma. Embora globalizada, evita “realidade fabricada” para induzir ou conduzir à conclusões parciais. Com linguagem acessível articula o conteúdo que interessa à coletividade, muito bem filtrado...
            Há multiplicidade de vozes presentes no diálogo com o leitor, unindo, como dizia Oscar Wilde, os parceiros, na capacidade de conversar... E, neste universo ilimitado das palavras que alerta ou encaminha por estratégias argumentativas formadas, sugeridas ou adaptadas, veiculam-se assuntos, sugerindo progresso e mudanças, em exemplos, por pessoas de renome.
            Os fatos sempre dispostos com critérios e consciência formam a opinião pública enquanto informam com compromisso de preservação de valores...
            Parece um livro com emoções, se pegarmos os títulos das seções. No encontro semanal, nada descartável... Uma ordem natural aproxima o leitor do texto, sem impacto, pela forma de abordá-lo com ética.
            A festa é a da qualidade da informação, favorecendo o senso...
            Parabéns pelo exemplo de vida na imprensa e pela vitória-ouro que é também a conquista para o leitor. Ele pode ocupar-se sem prejuízos pelo sentido dado aos fatos e à memória coletiva.
            Aplausos à Gazeta, semanal capítulo da história, arquivo-ouro do patrimônio.

            Carmem Lúcia Ebúrneo da Silva - Academia Botucatuense de Letras.
            Botucatu, 08/10/2007.

A Bofete

À Cidade de Bofete

Esta terra de origem aquática
Surgiu num fundo de mar,
Recebeu muitos filhos, fez-se Pátria,
Amparou o “Gigante” a repousar...

Nos inscritos “Sumérios”
Há cultura, entre os seus, milenar...
Em seu nome fartura retrata,
Por um dia tropas alimentar.

Rasgou o sertão com o progresso
Que o carreiro (dentre eles DITÃO) ia levar...
Nas estradas precárias, um dia...
Um motor veio a reinar.

Hoje brilha no ouro-esverdeado...
Homens, plantas, espécie rara...
Aqui raças se instauraram, sem receio...
E a 5ª está em seu seio...


À Escola Anselmo Bertoncini

Nobre escola... lar divino
Que embala e forma a menina, o menino.
Na pureza fásica do aprender
Transforma letras e números no saber.

Nesta escola se deslumbra o mundo, na paz...
Entre livros, mapas, imagens...
Palavras, idéias: viagens...
Que só o ensinar é capaz.

Tantas mãos hoje firmes registram
Caminhos diversos, além dos versos...
Gigantes, flexíveis, atuam com alegria
Em almas fortes por sua via...

Reflete em sua história
A sabedoria sagrada.
Pela força da memória:
Templo de luz, altar do conhecimento, Escola amada!

Carmem Lúcia Ebúrneo da Silva
Botucatu, 21/12/2007. (11h 11min)

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Poesia-Terapia (parte 2)

Poesia-Terapia (parte 1)

III Festival Internacional de Poesias de Dois Córregos
27/06/09

                 “POESIA-TERAPIA”

Acreditando que a palavra possui alma e poder... escolhamos escrever com cuidado...
Particularmente, registro meus sonhos, meus pesadelos e muitas vezes brigo com a realidade; denuncio, entrego meus pontos fracos e também os fortes; filosofo, declaro meus modos de pensar e amar; historio, pesquiso meu interior, elaboro idéias, chego a melhor compreensão do cotidiano, viajo na imaginação... que é a maior liberdade humana particular...
Escrevo por inspiração, por treino, por estudos e pesquisas, por encomenda ou por compulsão... Há em mim um misto de idéias e descrições nas quais pinto a vida com as cores da emoção, da história, que às vezes é humana e se modifica até chegar a minha história particular.
Desde a antiguidade, em guerras, na solidão, no ódio ou na paixão... é muito fácil se expressar em versos...principalmente na instabilidade... É rápido, tem relato completo,  em  flashes de acontecimentos, é um objeto empírico, existe por si e em si mesmo, ao alcance de qualquer leitor por ser fácil de ser compreendido...
O modo como se dispõe na página, o ritmo específico de cada verso que ocupa uma linha, o conjunto de versos formando a estrofe... e muitas vezes a rima... são traços distintivos para diferenciar o poema da prosa... pois esta é escrita em linhas contínuas, ininterruptas...
Há de se registrar que a poesia nasceu com o intuito de sensibilizar...e na linha do tempo... desde os  Trovadores medievais( do século XII em diante), os homens, na maioria nobres, escreviam com o eu lírico masculino as cantigas de amor e com o eu lírico feminino as cantigas de amigo.

Cantiga da Ribeirinha( considerada a primeira cantiga de amor da Literatura Portuguesa)
No mundo non me sei parelha,
Mentre me for como me vai,
Cá já moiro por vós, e - ai!
Mia senhor branca e vermelha.
Queredes que vos retraia
Quando vos eu vi em saia!
Mau dia me levantei,
Que vos enton non vi fea!
E, mia senhor, desd'aquel'di, ai!
Me foi a mi mui mal,
E vós, filha de don Paai
Moniz, e bem vos semelha
D'haver eu por vós guarvaia,
Pois eu, mia senhor, d'alfaia
Nunca de vós houve nem hei
Valia d'ua correa.

( Cantiga de amigo)
Se sabedes novas do meu amado,
aquele que mentiu do que me há jurado
ai deus, e u é? Ai flores, ai flores do verde pinho
se sabedes novas do meu amigo,
ai deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado,
ai deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquele que mentiu do que pôs comigo,
ai deus, e u é?

(...)                                                           

D. Dinis



Na poesia de hoje não há idade, nem sexo, nem nacionalidade, nem classes sociais... e como diz Machado de Assis: “traz-se do berço”.
Exemplo do grande poeta Carlos Drummond de Andrade, maior poeta brasileiro do século XX que retrata a vida à sua volta:

Cidadezinha qualquer
Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.

Êta vida besta, meu Deus.

De Alguma poesia (1930)


Observemos que a poesia é um flash de memória:
BEM-AVENTURADOS
Bem-aventurados os pintores escorrendo luz
Que se expressam em verde
Azul
Ocre
Cinza
Zarcão!

Bem-aventurados os músicos...
E os bailarinos
E os mímicos
E os matemáticos...
Cada qual na sua expressão!

Só o poeta é que tem de lidar com a ingrata alheia...

A ingrata linguagem dos homens!

Mário Quintana


Uma forma que facilita o uso da estrutura e das palavras-chave, fluindo a escrita paralela é a paródia...
Paródia... de Mário Quintana

BEM AVENTURADOS
Bem aventurados os poetas
Que semeiam idéias,
Que enfeitam em palavras
O mundo que habitam.
Bem aventuradas as poesias
Que bailam com ou sem versos,
Que mudam a expressão
E que à língua dão emoção.


Todos nós podemos nos expressar... alguns com técnicas, outros sem, alguns com palavras, outros com certos aspectos da arte que emocione, toque a sensibilidade, sugira emoções por meio de uma linguagem... Afinal a poesia é imaterial... não tem existência concreta... só existe em outro ser: primeiro onde ela se manifeste , depois  no espírito do indivíduo que a capte e  terciariamente, no próprio poema resultante do trabalho objetivador do indivíduo-poeta. Afinal, todo belo que represente uma idéia é poesia... e pode falar sobre isto quem já se sentiu musa...
Há também a prosa poética...
Vejamos Salomão, na Bíblia:
Anseios de amor
Ela .
 Sua boca me cubra de beijos! São mais suaves que o vinho tuas carícias,
 e mais aromáticos que teus perfumes
é teu nome, mais que perfume derramado;
por isso as jovens de ti se enamoram.
Leva-me contigo! Corramos!
O rei introduziu-me em seus aposentos.
Coro.
Queremos contigo exultar de gozo e alegria,
celebrando tuas carícias, superiores ao vinho.
Com razão as jovens de ti se enamoram

Matheus-6:27 a 6:29
Ora, qual de vós, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado à sua estatura?
E pelo que haveis de vestir, por que andais ansiosos? Olhai para os lírios do campo, como crescem; não trabalham nem fiam;
contudo vos digo que nem mesmo Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles.
 “Há muito  que se registrar e que se descobrir da alma que transcende em cada manifestação representativa.” Diz Sérgio Milliet...?
E... Dois Córregos é Cidade Poesia porque as pessoas daqui não têm medo de transcender, de se expor, descobrir-se, e na arte mostrar o seu ser interno, seu “Eu” superior que se manifesta no canavial, na usina, no comércio, na casa de detenção, na rua, na escola, em casa... e, prova assim, que não há limite para a imaginação. Ela jamais será superada, pois  nela  mora a criatividade, que é pessoal e livre...

Temos que continuar a escrever!

Dois Córregos já nasceu poética...
Em par com nascentes
Sua água fluindo...
E da felicidade à poesia... um  passo.
Em seu leito sensibilidade, educação e esperança
Ideais alimentados  pela usina de sonhos
Que tem com versos aliança...

Digo sempre: Se não escrevermos na hora que pensamos, minutos depois vamos usar outras palavras para nos expressarmos, aí, fica só a idéia... e, se é desta forma, há um criador atuante em cada um de nós.
 Como nem nós pensamos duas vezes com as mesmas palavras...por que imaginarmos que o que pensamos não é interessante... ou que alguém possa pensar melhor que nós???? Somos ímpares em recriação...
O papel e o lápis ou a caneta ou o teclado...são nossos grandes aliados no registro de nossas histórias ou da contemporaneidade...


Desde  o simples relato,  por exemplo, em:

Prazeres - Bertold Brecht

O primeiro olhar da janela de manhã
O velho livro de novo encontrado
Rostos animados
Neve, o mudar das estações
o jornal
o cão
a dialética
Tomar ducha, nadar
Velha música
Sapatos cômodos
Compreender
Música nova
Escrever, plantar
Ser amável.

Coisas comuns do cotidiano... com as quais  podemos ser felizes:

Olhar a luz do dia ao amanhecer...
Andar, enxergar, ouvir, respirar, pensar...
Milagres  do presente...
Até o nosso trabalho,
Nosso alimento e compromissos...
As fases da lua,
A brisa que passa.

Neste caminho... de começo... para os que ainda não experimentaram, convido-os a PARODIAR!

Todos podemos enumerar atividades e desejos que nos façam mais felizes... e como felicidade é ter gratidão pela vida... Vamos demonstrar a nossa?!

PRAZERES

Após o trim do despertador...
Sentar na cama e agradecer...
Usar naturalmente o banheiro,
Comer o que gostar ou puder,
Ouvir ou dizer :bom dia!
Trocar olhar ou sorriso,
Sentir a brisa da manhã,
Ver aquele e-mail,
Ler aquele torpedo,
Assinar o “livro-pão” de novo, no trabalho...
E terminar o primeiro turno.
Render mais que na véspera,
Encerrar tarefas...
E além do cotidiano:
Dia de pagamento,
Ovos na Páscoa,
Panetone no Natal,
Bolo de aniversário,
Compra de Supermercado,
Tratar algum problema de saúde...
Encontrar a paz no íntimo sempre...
Rezar quando quiser,
Fazer planos a curto e a médio prazo,
Obter sucesso nos projetos,
Acreditar que a palavra é o princípio...`
Ver materializar o que nasceu na ideia: “prece-ação”...
E viver o presente que é presente...


Quer melhor terapia que esta forma de oração?
Encontrar-se consigo é poetar...
E... interno... há um altar!


Outra paródia do mesmo texto:

Coisas que me deixam feliz

Acordar
Amar
Ter família
Comer chocolate na TPM
Não ter cólicas
Baile orquestrado
Roupa nova
Ficar em silêncio quando preciso dele
Escrever sempre
Ter dinheiro para o necessário...
Perfume francês
Ler, em especial... os textos de meus alunos
Viajar e na estrada ver as nuances do verde
Encontrar meus filhos
Receber declarações positivas...
Ir à cabeleireira
Ganhar massagem
Fazer supermercado
Dançar, nadar, caminhar
Aprender e ensinar
Dormir e sonhar
Depois, de novo...
Acordar e tudo recomeçar...









 

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Textos para Missa de Natal


 ENTRADA:
 NATAL INDIVIDUAL

Jesus nasce em cada instante
Que O deixamos fecundar:
- Através do céu nublado,
do brilho do sol,
Do aconchego ao luar,
do amanhecer universal,
Dos alimentos, da vida...
da sabedoria e do amor;
Gerando, partejando, renascendo em nosso interior,
Fazendo anular sutilmente a indiferença pelo belo e simples
E alvejando as próprias nuvens brancas que só Deus conduz
No querer crescer... com Jesus...
Parabéns a seu Jesus!!!



COM SUA LUZ

Nasce e renasce
Na missa do galo
Um outro intervalo: Aquele da reflexão.
Comemorar é mais que comer,
É alimentar almas
Com aquele que é o amor,
Fez-se carne entre nós
Habitando nosso espírito.
Ao evocá-Lo se reproduz
E nos preenche com sua Luz
Em Esperança e Aliança
A fé nos liga e anima
Se adulta... pura e menina...


EVANGELHO:
CONTINUADORES A CURAR

O Senhor nasceu
E reina entre nós
Sua vida foi missão
No evangelho, vivo... continua...
Na missa perpetua...
Somos chamados
Continuadores a curar.
A comunicação sem barreiras
Faz compreender e nos libertar,
Ensina de forma construtiva o amar
Sem censura que dê dor...
Jesus nos cura para o verdadeiro falar com amor...

                          

ORAÇÃO DA COMUNIDADE:
NATAL ALÉM DA COMEMORAÇÃO

Natal... comemoração...
Da vida que tem Deus na direção...
Promotor de caridade,
De Eterna bondade com os filhos Seus.
Clima de família,
Sempre nos trilha...
Desde que Jesus nos deu...
Por Ele... a terra toca o céu...
E por nós sempre é fiel...


OFERTÓRIO:
ENVOLVIMENTO

Se o céu tem muitas moradas...
A morada de quem não escreve nada
Será sem linha demarcada...
Enquanto, se nossa vida,
Sempre cheia, sempre bem vivida...
Será!!!
Se ajudarmos a quem mais precise...
Que os cuidados e bens
Não sejam só de forma burguesa,
Que a caridade não seja só pela riqueza...
A maior doação é pelo envolvimento
Ao adentrar a vida do outro e transformar seu momento... 



SER AGENTE

Deus ama aqueles que precisam!
Precisamos perto deles estar!
Nosso Deus está perto de quem sofre...
E eu que sou cristão
Sou o “continuador” da missão:
Mudar o comunicar,
Dos que precisem, aproximar...
Ajudar a transformar e ser agente
Se tiver na partida um livro sem teor...
Preencher!!! Ainda há tempo!!!
Antes de entregá-lo ao Senhor...


  

COMUNHÃO: JÚBILO À VIDA

Com a sua vinda, oh Jesus!
Ensinou-nos a orar,

Hoje em nosso íntimo
Seu amor vem brotar...
Podemos sentir
O coração fluir...
Novo caminho nos traz,
Pela fé nos satisfaz.
Seu nascer... júbilo à vida
Liberta, perdoa, cura ferida.
Sem bisturi, tira o ressentir,
Muda n’alma o sentir.



COMUNHÃO:
JESUS REDENTOR

Nossa mente,
Nosso coração,
Nosso caráter,
Seja transformado
Naquele que recebemos...
Que Jesus Redentor
Dê-nos graças e amor...
       
                                                                
APÓS COMUNHÃO:
SÚPLICA

O segredo do mudar
Está na forma de comunicar...
E ao Espírito Santo... lembrar de suplicar:
-minha mente venha iluminar...
Oh Ponte do Amor de Deus...
Para no rio da vida não me afogar...

        
FINAL:
CRISTO É PODER

Pensar positivo e ser agradável
Torna o corpo saudável,
Tem efeito concreto...
O ser torna-se amável...
O Amor livra-se da culpa,
Tira o medo e cura,
Dissolve a raiva, deixa a alma pura...
Cristo nos dá este Poder:
Do Mal, por Ele... Desaparecer...


FINAL:
JESUS VENCEU A CRUZ

Jesus nasceu em Belém...
Presente... irradia o seu bem
na luz de seu olhar,
na profunda mensagem de seu falar,
Inunda e purifica,
a nós todos vem curar,
Liberta no perdão
O nosso coração.

Água fresca e translúcida
É seu exemplo, oh Jesus!                
Pelo amor nos curou
E venceu a cruz.
Ilumina o universo,
Transparece na pura alma,
Pulsa e nos acalma...

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011



Capitu, memórias póstumas.
(Baseado no livro homônimo de Domício Proença Filho)

(Início)
O Juiz se posiciona e diz:
- Diante da acusação de  adultério feita à senhora Capitolina Pádua Santiago, apresentada nos autos do processo, passamos agora à seleção dos jurados e aos votos secretos dos mesmos.

( Os sete sorteados se aproximam de seus assentos, conforme a chamada).

Neste momento o juiz começa a distribuição das cédulas onde se condena ou absolve a ré.

 Enquanto esta cena acontece no palco, no corredor do salão entra Capitu e diz:

 - Meritíssimo, eu sou Capitolina Pádua Santiago! Se Vossa Excelência me conceder o direito de defesa , colocarei a minha verdade!


O juiz responde:
-Não queres ajuda?

Capitu acentua:
-Não, excelência! Gostaria de ter direito de minha própria defesa!

O juiz diz:
-Tens certeza de que queres fazer sua própria defesa?

Afirma Capitu:
-Minhas defesas serão minhas palavras e minhas ações.

O juiz diz:
-A partir de agora está instituída a senhora Capitolina Pádua Santiago como sua defensora.

Capitu faz a narração a seguir:



Minha história é de amor em desencanto, meritíssimo!
Decorrido tanto tempo humano, posso contestar as acusações contra mim feitas pelo meu ex-marido, o Dr Bento Santiago.
Devo-lhe minhas tristezas, minhas alegrias; devo-lhe a fama e a construção negativa que me foi atribuída.
A mim coube a parte de demonstrar a emancipação da mulher e a exemplificar a afirmação do discurso feminino, apesar dos preconceitos.
Se vossa excelência um dia amou como eu amei, desejou como eu desejei, vai me entender.
Vou contar minha história com simplicidade e não vou pôr nela muitas lágrimas; até porque não guardo rancor de meu ex-marido. Apenas lamento o seu equívoco e a sua incapacidade de se comunicar.
À cláusura de meus dias, na Suíça, onde me resguardei, vendo o progresso de meu filho Escobar, reflitia que Bento Santiago nunca se encontrou, mesmo tentando em seus relatos “atar as duas pontas da vida e restaurar na velhice a adolescência”. Ele faltou-se a si mesmo. Muito inseguro, alguém tinha que ser culpado do seu fracasso existencial. Eu fui a escolhida, o bode expiatório, como se o sacrifício de uma vida humana pudesse se tornar benefício da coletividade.
Ele atuou com sutileza, dissimulação e estilo trabalhado. Passou a visão enigmática de minha personalidade, mas nunca me conheceu em profundidade; eu sempre fui um mistério para meu marido.
Pintou meu caráter de modo deletério, como interesseira, pragmática, calculista; mas quero desabafar minha sensação de injustiça pela falta de sustentação de sua acusação. Tenho este direito.
Hoje... passados os anos, ainda ecoam as observações sobre mim: “Ela é gente do Pádua, filha do Tartaruga, desmiolada” e percebo que muito da aparência vinha não da emoção, mas da culpa de em 1857... acharem que eu tinha olhos de cigana oblíqua e dissimulada...
Mexericos alimentaram a existência frustrada do pobre-diabo, Bentinho.
“A casa era dos três viúvos”: Minha ex-sogra, Dona Glória, Dr Cosme, irmão dela e a prima Dona Justina....e Bentinho cercado de proteções. Ele vivia repetindo que sua mãe era boa criatura, mas apesar da aparente mansidão e emotividade, era ela uma matriarca autoritária e dominadora...e ou castradora.
Viúva aos 31 anos, escondia “ os saldos da beleza e da juventude”: vestido escuro, sempre isento  de adornos, xale preto, em triângulo, abrochado ao peito por um camafeu, que raras vezes deixava de usar.
Assumiu o luto, preferiu permanecer viúva, hoje estou certa,era uma mulher presa à sua classe, ao seu tempo e a algumas roupas.
Pareciam felizes na casa... pose assumida como em retrato.
Meu pai ganhara na loteria e comprara este sobrado vizinho da casa de Dona Glória. “Concluo que não se devem abolir as loterias”... como na caixa de Pandora ficou a esperança, no fundo... em alguma parte da vida há de ela ficar.
Nós dois também investimos na loteria de nosso casamento

Dona Glória cercada de palavras mansas, mas fundadas em decisão que não admitia contestações... na convivência, foi tirando a máscara.
Nunca tive ilusões: tratava-me bem, mas nunca viu com olhos satisfeitos o meu casamento com o herdeiro dos Santiago.
Quando volto àquela tarde de novembro... movida pela força das palavras, éramos dois adolescentes a brincar juntos no quintal e isso nos fazia rir e nos sentir felizes.
Estávamos prontos para representar o espetáculo do percurso de nossa existência... como gostava de dizer meu ex-marido... “ a vida é uma ópera”, lembrando Marcolim, um velho tenor italiano., mas meu marido nunca se esqueceu deste frustrado cantor em seus relatos: “ Deus é poeta. A música é de Satanás”...
Nesta teoria de Bentinho, eu, Capitu, cantei todo o tempo... Não foi absolutamente como o Sr Bento Santiago narrou no seu relato infeliz.


A história dele foi desde a gravidez, de expectativa e promessa, pois o primeiro filho de dona Glória nasceu morto; e a resolução depois de ter chorado durante seis dias do nascimorto, foi prometer a Deus, se lhe desse a graça de um segundo filho, e se fosse varão, “metê-lo na igreja” e devotá-lo ao serviço do senhor.
Guardou o segredo e não o revelou nem ao marido, quando vivo. O menino Bento crescia entre os afagos da mãe, tios, agregados.
Dona Glória não matriculou Bento em nenhuma escola, levou-o a aprender as primeiras letras e latim com Padre Cabral, velho amigo de Tio Cosme.
Tudo conduzia ao altar. Na missa de domingo, repetidas vezes dizia: “que era para aprender a ser padre”. Bentinho já estava tão condicionado que vivia me convidando para “brincar de missa” e eu gostava... a hóstia era sempre um doce... e eu servia de sacristão enquanto ele oficiava.
Há certas dedicações terrivelmente castradoras...


Até que um dia, José Dias, o agregado, falou: “ Se eles pegam de namoro”...
Eu não havia pensado nisto... mas me indaguei: Bentinho me amava? E eu, eu amava Bentinho?
Estava louca para falar com Sancha, colega de colégio, minha melhor amiga, sobre isto... mas me contive...
“Conforme Bento- “ eram travessuras de criança”...
Às vezes, perguntava se havia sonhado comigo... Sempre sincero, dizia que não.
Um dia... para provocá-lo, eu lhe falei que os meus sonhos eram mais bonitos que os dele. Ele, pela primeira vez, me pegou desprevenida: disse-me, cheio de ternura, que era porque os sonhos eram como a pessoa que sonhava.
Eu tinha consciência plena da emoção.
A fala de José Dias iluminou minha certeza: Eu amava Bentinho. Bentinho amava-me.
À manhã do dia seguinte a estas minhas reflexões, com um prego, cavava no muro que separava nossa casa da de Dona Glória... nele havia uma porta aberta para facilitar nossos contatos. Não é difícil adivinhar quais os nomes...cavava...e senti meu rosto corar, quando Bentinho entrou de surpresa...mas nem reparou, embora eu ficasse a esconder as palavras...
Ele parecia muito preocupado....desviava o olhar e notei que seus olhos buscavam meus cabelos; eu os tinha grossos, feitos duas tranças. Não ensaiou nenhum gesto. Nunca foi, na verdade dado a qualquer iniciativa... e ele ia balbuciar a notícia, mas eu fui raspar o muro e ele deu um pulo e conseguiu ler, os dois nomes cavados na moldura de um coração: Bento X Capitu.
Nossas mãos foram se procurando, as quatro, ávidas, nervosas, tímidas. Prendi fortemente as dele nas minhas. Elas ficaram unidas, sem esquecimento, sem monotonia, alimentadas de um agrado e de um calor jamais experimentados por mim. Oh, a linguagem das mãos! Os olhos buscavam imitá-las, a entrar uns pelos outros... O que eu sentia era inenarrável..
Meus pais nos flagraram e fingimos estar jogando o siso.
Bentinho, natural, dócil... voltou para sua casa.


Eu permaneci perto de minha mãe, a sempre discreta  Dona Fortunata e de meu pai Pádua, funcionário do Ministério da Guerra.
Muito vai e vem...digressões e análises: Dr Bento esqueceu-se de dizer que ele roeu a si mesmo, durante toda a nossa vida de casados, também por ele corroída.
O seu caráter foi distorcido, tornou-se muito submisso, dominado, a partir da vivência com o autoritarismo e prepotência de sua mãe...
Mas isto não me importa, o que me interessa é a restauração da verdade.
Ele foi o protagonista de sua própria história e agora, além de escrevê-la, tem que a ler...
Vivi calada, mas a mudez não pode existir mais. Não há noite tão longa que não encontre o dia.
Esta visão distorcida sobre o ciúmes de mim... deste “filhinho da mamãe”... apoiado  em tudo pelo pajem José Dias, com relação aos livros, sapatos, o banho, correção na prolação dos sons da fala...criou um homem sem iniciativas próprias, influenciado e transferindo a outrem a decisão de seu destino... desde o fato que já iniciei comentários que o deixava nervoso por precisar ir ao seminário, devido a tal promessa materna. Disse a mim que pensara em envolver o Imperador para que no plano imaginário, convencesse Dona Glória que não o fizesse padre.
Cheguei a saber que Bentinho registrou: “- Capitu era Capitu, isto é, uma criatura muito particular, mais mulher do que eu era homem”.

Mas as recordações... são divinas.... Certa vez houve um encanto de emoção e de envolvimento em que Bentinho foi meu cabeleireiro -  tomou duas porções iguais, para compor duas tranças.
Joguei a cabeça para trás, ficamos rosto a rosto, olho no olho, as bocas uma na linha da outra, a ponto de sentirmos o mútuo calor da respiração e ele pediu: Levanta um pouco a cabeça, Capitu... Não levantei! Fechei os olhos... Aflorei os lábios e... maravilhosa foi a sensação do beijo, longo, úmido... O universo parou naquele instante... Por dentro, eu vibrava intensa e suavemente...
Cheio de emoção e muita confusão na cabeça, acabou chegando à conclusão de que enfim
“era homem”.
E aquele primeiro beijo foi talvez a mais grata e feliz lembrança de todo o meu convívio com o filho de Dona Glória.
No mesmo dia, adormeci, e ao despertar, uma flor rubra desabrochava do lençol... eu era finalmente mulher.
Aquele foi um dia de inaugurações.

Recorrendo ao livro de Salomão, lembro-me, no primeiro versículo do texto bíblico: “Aplique ele os seus lábios dando o ósculo da sua boca”, claro que complementado pelo versículo sexto, capítulo II: “ A sua mão esquerda se pôs debaixo da minha cabeça e a sua mão direita me abraçara depois”.
Eu, muito sonhadora, já me vira no altar, no dia de nosso casamento, tornando-me sua mulher... Jurei, de mim para mim, que padre ou não, haveria de dar-lhe um filho. Cheguei a assustar-me da minha própria ousadia.
Juramos que nos casaríamos somente um com o outro.
Não ouvi observações de minha mãe que em certa ocasião acentuou que eu poderia fazer um bom casamento ou poderia sofrer muito, pois Dona Glória era muito bondosa, mas não gostava de ser contrariada.
A tão indesejada despedida para a ida ao Seminário chegou e em soluços e lágrimas sentia a nossa impotência e minha ira...
Todos representávamos um papel naquela ópera, comparsas na mesma hipocrisia.

A partida de Bento abriu um vazio no meu todo-o-dia. Ele realmente já fazia parte de minha vida, como se integrasse a circulação de meu sangue.

De início ele me escrevia todas as semanas. José Dias era nosso correio secreto.
Ele começou a se preocupar demais com a imagem... Nunca vi ninguém tão preocupado com as conveniências... Um artificialismo o rodeava.

Numa carta descreve um colega de seminário, Escobar, e o elogia em detalhes.
Noutra carta, Bentinho trata de sua relação com Escobar, cada vez mais estreita, como ele mesmo escreveu: “o amigo veio abrindo a sua alma, desde a porta da rua, até o fundo do quintal”.
Fez dele seu confidente, sem qualquer restrição... Senti-me invadida.
Parecia que até se esquecia das antigas amizades, diante de tanta admiração...

Por vezes pareceu-me que Bento habituara-se à vida do seminário. Era um delírio de referência que, sinceramente, me cansava: “os padres gostavam dele, os colegas gostavam dele e Escobar mais do que os rapazes e os padres.” E de tal forma falava do amigo que cheguei a pensar que estava gostando mais dele do que de mim.

A alma humana esconde razões que escapam à nossa visão comum...Observe este acontecimento: Numa ocasião, veio Bento visitar a mãe doente e disse pensar que se a mãe morresse acabaria o seminário, mas a doença não era grave...
Hoje, reportando a nossa história, percebo que foi um adolescente frágil e que a idade não o fortaleceu. Antes, acentuou-lhe os defeitos e diluiu-lhe as virtudes.


Como ele era advogado, conseguia induzir o posicionamento de quem contatasse com seu relato. Eu, contrariando as calúnias, considero que “escrever é uma questão de invenção, não de sentimento”.

Nossa vida com crescente amargura e frustração foi fruto do ciúme... Ele foi vítima de si próprio. Culminou sendo Iago de si, ele sim, dissimulado. Santo Iago... Santo do pau oco.
A história dos três que habitavam meu marido: Bento Santiago, Bentinho e Dom Casmurro faz-me perceber que o sofrimento adolescente converteu-se em prazer mórbido de rememoração. Sua neurose fez com que, em memórias, se deliciasse da própria desgraça. Envenenou-se com a tinta da própria melancolia.

Talvez para minimizar o mérito da minha capacidade de raciocinar, fui julgada... não mediram esforços e artes para insinuarem os aspectos do meu caráter e de meus propósitos.
Tentaram me converter em mulher objeto.
O Sr Bento Santiago, condicionado ao comportamento familiar tradicional, projetava em mim o que era próprio dele. Tudo o que fez deve ter sido por amor, amor a si mesmo, mas enfim amor...

Quanto à importância de Escobar em nossas vidas... eu não tenho como negar. O amigo esperto pôde ajudar Dona Glória a retirá-lo do seminário ao mostrar a solução: “ Sua mãe fez promessa a Deus de Lhe dar um Sacerdote, não é? Pois bem, dê-Lhe um que não seja você. Assim Bento fica livre da promessa. Escobar também saiu, em seguida, do seminário e Bentinho foi para São Paulo fazer Direito, ficando distante mais cinco anos, período em que Escobar se torna intermediário das suas cartas a mim, e me ajuda a conviver com a ausência de meu amado, mas só na Suíça fiquei sabendo que meu namorado, na época, tal pacto de confiança tinha com Escobar, que enviava cópia das cartas que eu recebia... para Escobar... Ri tristemente ao constatar isto. Que imaturo!
Como Jacó, que serviu outros sete anos, feliz na contemplação da mulher amada. Eu servi cinco anos de saudades de Bentinho por não vê-lo durante o período em que cursou Direito em São Paulo.
É vezo da cultura ocidental, nos tempos bíblicos e nos clássicos, infelizmente, a mulher não ter vez nem voz... talvez porque o registro dos fatos tenha sido mediado pelo homem.
Não posso transformar em tese, mas Bentinho sempre fora impulsivo; na aparência um lago tranqüilo, mas bastava a menor brisa, para desencadear ondas tempestuosas. Foi o caso de explodir, irado, a criticar a nudez de meus braços em um baile, pelo olhar de cobiça de todos os homens do salão.

Após o período do curso, Bentinho volta, bacharel em direito, com vinte e dois anos. Não sei explicar a sensação. Bentinho sendo o mesmo, parecia-me outro.
Eu estava no mesmo plano de seu diploma de advogado. Ele preferia falar de mim a estar comigo.
Precisava convencer a mãe a permitir que se casasse e mais uma vez ... a decisão estava na dependência do outro.
Ela desejava ter uma nora perfeita: “boa, discreta, prendada, amiga”...
Casamos!
Era março de 1865. Entardecia e uma chuva forte desabava... embora eu preferisse S. Francisco de Paula - venceu a opinião da mãe – na igreja da Glória. Eis apenas uma minúcia. Eu me sucumbi...
Era como se eu estivesse vivendo um sonho...
Na intimidade... nunca pude  aproximar-me calorosamente com meu corpo e carinhos a ele, que ele dizia: -“ Componha-se D. Capitolina, não fica bem para uma senhora...” ele me admoestava carinhosamente.
Convidou-me, ainda no quarto nupcial, a ouvir a passagem bíblica, que não esquecerei jamais: “-As mulheres sejam sujeitas a seus maridos... não seja o adorno delas o enfeite dos cabelos riçados ou as rendas de ouro, mas o homem que está escondido no coração...Do mesmo modo, vós maridos, coabitai com elas, tratando-as com a honra, como a vasos mais fracos, e herdeiras convosco da graça da vida”...Explicou que se tratava da primeira epístola de São Pedro...
Eu, para ajudá-lo, disse-lhe: Tenho uns versos para homenagear o porteiro do céu e também a você, meu marido; citei a Escritura: “- Sentei-me à sombra daquele que tanto havia desejado”.
Ele tomou-me as mãos e beijou meus lábios com fervor... só lhe digo que o que senti estava longe do que habitava meu sonho e minha imaginação.
Não fugimos à regra da maioria dos recém-casados.
O fato é que eu ansiava pelo gozo do amor de que tanto falava Sancha e de que eu tivera também notícia nas leituras proibidas no colégio, mas não o experimentei, na primeira noite. Esperei a segunda; Bentinho foi açodado, beijou-me lentamente os pés, braços, lábios; mas quando comecei a experimentar um leve mover de onda, como algo a fluir, já tudo estava consumado.
No terceiro dia dormimos cedo. No quarto comecei a sentir saudades de meu pai e ansiei, confesso, pela conversa com Sancha e com dona Glória.
Não sabia como dizer-lhe da minha frustração. Dissimulei conscientemente.

Não falei do assunto nem com ele nem com ninguém. Afinal. Sou a criatura que sou. E quem sabe Sancha não estivesse fantasiando. Resolvi aceitar a situação como se apresentava e nossa intimidade noturna foi pouco a pouco reduzindo-se. Acomodei-me, sem estímulos.
Íamos vivendo: “As mulheres sejam sujeitas a seus maridos”.
Dois anos se passaram. Só um desgosto nos turvava: não tínhamos filhos. A felicidade de nossos amigos Sancha e Escobar, que haviam se casado, foi ampliada com a vinda de uma filha. A recém-nascida ganhou o meu nome... A única no mundo...além de mim a se chamar Capitu, tamanho o estigma e não enigma como pensam. A vida foi passando.
Num dos bailes... dancei muito... inclusive com Escobar e no dia seguinte, encontrei o meu vestido de baile destroçado a cortes de tesoura...

Não fazia comentários apesar do clima de hostilidade em que vivíamos...
Finalmente engravidei. A nossa vida se completaria. Deus sabe o que eu fiz para que esse sonho se concretizasse.
Os primeiros meses do nenê foram os melhores de nossa vida comum.
Escobar chegou a lembrar a hipótese de casar nossa filha com sua filha, Capituzinha. Bentinho emocionou-se até as lágrimas. À noite comentou comigo e concluiu: “ –A amizade existe, Capitu”.
A madrinha... Dona Glória  ao ser consultada sobre Dr. Escobar ser padrinho de nosso filho, foi taxativa: Quero que seja Dr Cosme.
Outro desencanto sem mágoa. O choque não impediu de sugerir-me que déssemos ao menino o nome de Escobar.
O céu abençoava o fruto que no inferno ia amadurecer.
Ezequiel chegou aos cinco anos... sem novidades...mas lembro-me bem deste fato, agora...Viu um gato que tinha entre os dentes um rato. Bentinho quis espantar o bichano e ele não permitiu. Fez sinal para que silenciássemos. Ele se deliciou com os últimos guinchos do rato agonizante. Bentinho irritado, bateu palmas e o gato fugiu. “Ezequiel ficou abatido:- Ora, papai! Eu queria ver!” o pai limitou-se a rir.
Hoje à distância e depois de tudo que veio a acontecer, não posso furtar-me a uma conclusão:-“saíra ao pai”.
Certa noite, enquanto cães faziam barulho na rua, Bentinho envenenou bolas de carne e saiu também para matar os cães, não o fez...mas posso imaginar sua luta interior... O homicida latente era mais fraco que o homem inseguro e tímido, mas o instinto destruidor estava lá, a corroer-lhe a alma...

Eu devia esta minha exposição que estou fazendo agora a mim mesma e às mulheres de todos os tempos, não era justo que a fala de meu ex-marido se eternizasse sem contestação. Afinal a palavra é risco e jogo.
Claro que fiquei perplexa diante das insinuações, mas conservei a serenidade. Minha alma nunca foi atormentada..
A confusão era dele, irritava-se com tudo. Sempre que Ezequiel estava a me fazer carinho, dava um jeito de impedi-lo. Implicava com meus vestidos, não queria que conversasse com vizinhos, proibiu-me de visitar Sancha, passou a voltar do escritório nas horas mais descontroladas.
Mas a insegurança, pensava, é melhor que a indiferença.
Devido ao nosso filho gostar de fazer imitações, comentei que tinha semelhanças com o Escobar, nosso amigo... Abençoadas palavras!
Dóceis, mais se usadas com habilidade, podem  tornar-se afiadíssimos instrumentos de destruição, a mais certeira das armas e assim a semelhança com Escobar tornou-se fixação na idéia de Bentinho.

Em contraposição... a solidariedade... Após minha mãe, meu pai também morrera... e Bento cuidou de tudo com esmero...


Eu acreditava na sinceridade da emoção de Bentinho... Seu rosto transtornado, por outra morte... todos pensavam que fosse tristeza... as afeições ultrapassam o tempo...
Escobar morre afogado...
Diante do caixão. Rompeu-se o fio tênue de meu casamento, pois concluí que era casada sozinha, perdi definitivamente meu marido e nem sequer dei conta.
Deixei escorrerem lágrimas, poucas e silenciosas...
Meu alucinado esposo viu no meu olhar a marca da traição, o sinal da culpa por ele buscada em mim, durante todo o tempo. Ele estava ali, diante de mim, estranho a mim.
Dias depois Sancha mudou-se para o Paraná.
Senti-me desamparada e só.
Convivi com um ser dividido, um homem que chegou a pensar em nos matar.
Nossa vida conjugal chegava ao limite. Resolvi proteger meu filho. Propus que fosse ao colégio interno.
A solução do internato, se melhorou a situação de Ezequiel, só fez agravar a minha.
Bentinho não conseguia mais controlar sua aversão.
Pensei em procurar Dona Glória, mas concluí que seu amor... pelo filho não a deixaria compreender.
Ademais, um bilhete que encontrei por acaso na mesa do gabinete de Bentinho, revelou-me que a estava fazendo confidente de suas dificuldades.
Atônita... a Capitu de Matacavalos parecia ter adormecido dentro de mim.
Precisava me distrair... e fui ao teatro. A peça era Otelo, de Shakespeare... Senti-me a própria Desdêmona, padeci com ela, assumi com ela a perplexidade, com ela morri nas mãos do homem amado.
Na peça de minha vida havia um detalhe: Otelo e Iago eram a mesma pessoa...
Diz Bento em um dos autos  que quase o levei a se suicidar, mas para mim não passou de um teatro... Faço esforços para crer que, em algum momento lhe tenha passado pela cabeça dar cabo da existência...

Esgotaram-se as possibilidades do suposto casamento, que jamais se concretizara pela apresentação da falsa identidade de meu marido...
Não podia mais continuar... assumi mais uma vez a responsabilidade por ele.

Ao refazer o percurso de minha vida e tomar conhecimento de suas denúncias caluniosas, dou-me conta de que nunca o tive plenamente. Dividi-o com a mãe, com o agregado José Dias, com o amigo Escobar. A dualidade e a insegurança foram os alimentos constantes de sua infelicidade.
A solução foi viajarmos os três para a Europa: eu, Ezequiel e Bentinho. Mais uma vez salvam-se as aparências dos conservadores: Como poderia a família do Dr Bento Santiago desagregar-se? O que pensariam os amigos?

E a simples proposta da ditadora dona Glória: eu ficaria na Suíça, com Ezequiel. Ela ajudaria no que se fizesse necessário. Por exigência minha, acompanhou-nos uma professora do Rio Grande; ela cuidaria de ensinar português a Ezequiel...
Bentinho retornou ao Brasil e reassumiu o trabalho. Não foi sem dor que o vi partir. Procurava entendê-lo. Não tive forças para mudá-lo em sua essência. Há almas empedernidas. Nem tudo pode o amor.
Foi um período de luto... mas adaptei-me à nova vida. E a Europa era um lugar maravilhoso... com um pouco de sol e do mar do Rio de Janeiro chegaria perto do paraíso.
A saudade era forte e poderosa, mas não déramos certo como marido e mulher... Mesmo tendo sido amigos... Há pessoas para as quais a única possibilidade de reconciliar-se é a separação.
Ele sempre foi rancoroso e empedernido... embora viesse repetidas vezes à Europa com o pretexto de nos visitar, nunca o fez...

O tempo curou-me. Esqueci as acusações e as mágoas e, por isto, só agora consigo abordá-las...
Ezequiel formou-se em Arqueologia...
A vida segurou, como sempre, seu curso sistemático e regular como um relógio Suíço. Meu filho foi o meu melhor amigo que tive na vida. Fiquei com a melhor parte do casamento.

Eu, bem... li muito, dediquei-me a Ezequiel e envelheci...
Mas revelo: Fui morrendo aos poucos de saudades, menos de Bentinho, ou de quem quer que seja... Morri de saudades do amor que alimentei desde a infância, ao qual eu fui fiel durante toda a vida e que o trouxe comigo para a eternidade.
Eu fui uma mulher feliz, enquanto amei e fui amada. O meu Otelo é que, como o outro, não soube lapidar o diamante que tinha em suas mãos...
...afinal, diante de tudo que vivi e li nas denúncias de Bento Santiago, chego à conclusão de que, por incrível que possa parecer, ele se separou de mim por excesso de amor.
Explico-me:
No derradeiro registro de suas memórias insinua que não conseguiu “esquecer a primeira amada de seu coração.”
Ele sim traiu o amigo, que o admirava; traiu a mulher que o amava; por fim, traiu-se a si mesmo.
Ele me colocou no coração e na alma todas as razões para traí-lo, mas eu o deixei por absoluta incompatibilidade amorosa. Não suportava as mágoas e o desprezo...
E, ao término deste meu relato, se você lembra bem Bentinho menino, há de concluir comigo com as mesmas palavras dele:-“que o fruto que estava dentro da casca era o Dr Bento Santiago”.
Faço minhas, por fim, as palavras do salmista Davi, Salmo 63, e deixo-as à sua meditação: “E as suas línguas perderam a força, voltando-se contra eles mesmos. Todos os que os viam ficaram assombrados.”

“Infiel é a vida...
Eu sou a imagem da vida”.
Muito obrigada, excelência!

O juiz toma a palavra:

-Diante de tal circunstância, retornamos ao processo de julgamento da senhora Capitolina Pádua Santiago.

(Os jurados votam e o juiz recolhe as cédulas dando um dos  resultados, a seguir, após abrir cada cédula).

-Conforme a manifestação do júri aqui presente, a senhora Capitolina Pádua Santiago foi considerada inocente do crime.
                                Ou
-Conforme a manifestação do júri aqui presente, a senhora Capitolina  Pádua Santiago foi condenada à eternidade de reclusão por ser considerada adúltera.

Botucatu, 07/09/08.
10h
Inverno